Consumo de leite e derivados é seguro, garante especialista da Embrapa

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A pandemia do novo coronavírus causou transformações no país, levantando dúvidas sobre antigos hábitos dos brasileiros. Entre eles, o da segurança na hora de se alimentar. Com o anúncio da quarentena, ainda nos primeiros meses do ano, muitos enfrentaram verdadeiras maratonas até os supermercados para abastecer geladeiras e armários. Com isso, a procura por leite e derivados cresceu, mesmo em meio à crise.

A constatação é de uma pesquisa da Embrapa, que ouviu, entre 23 de abril e 3 de maio, cinco mil pessoas em todo Brasil. Segundo o levantamento, o queijo foi o derivado lácteo mais habitual nos carrinhos de compras durante o período. Do total de entrevistados, apenas 3% disseram não consumir o produto. Na sequência, aparecem manteiga, creme de leite, iogurte, leite condensado e leite UHT como os mais consumidos.

Os entrevistados afirmaram, em sua grande maioria, que continuavam comprando a mesma quantidade de leites e derivados de antes da pandemia. Mas houve mudança no consumo de alguns produtos, que perderam espaço na casa dos brasileiros, como sorvete, doce de leite e leite fermentado. Em contrapartida, itens como queijo, manteiga e iogurte permaneceram nas listas de compras.

O presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa e do Núcleo dos Sindicatos Rurais dos Campos Gerais (PR), Gustavo Ribas Netto, confirma essa tendência, mas ressalta que, com a “normalização” da quarentena, esse consumo tem sido menor. “Especialmente o de queijo, isso pelo estado de insegurança que a pandemia causou. Então, houve excesso de abastecimento no início e agora ele ocorre de modo ‘normal’”, aponta.

Apesar do receio das pessoas de se contaminarem por meio de alimentos, o pesquisador da Embrapa Marcio Roberto Silva garante que o consumo de leite e derivados é seguro. Formado em medicina veterinária pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e doutor em saúde pública (epidemiologia) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marcio comenta que os produtores leiteiros já tomavam todos os cuidados antes mesmo da chegada da doença ao Brasil.

“Depois da pandemia de covid-19, esses cuidados continuam, sem alteração nenhuma, mas na questão de higiene e ordenha os cuidados foram redobrados para evitar que esse vírus entre na cadeia do alimento”, avisa. Segundo o pesquisador, ainda não há estudos provando que o novo coronavírus pode infectar pessoas por meio do alimento, mas alerta todo cuidado é pouco.

“Não custa nada aumentar os cuidados de higiene na ordenha e na sala de ordenha para que não tenhamos risco nenhum de esse vírus entrar na cadeia do alimento. Esses cuidados redobrados não são só de preocupação com a qualidade e segurança do leite que o consumidor vai adquirir, mas também para prevenir a própria saúde das pessoas que estão lidando com essa atividade”, pontua Silva.

“A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que produtos de origem animal, como leite e queijos feitos de leite cru, devem ser consumidos sob processamento térmico. Queijos feitos em propriedades rurais de origem natural, eu recomendo que sejam consumidos assados ou cozidos, por exemplo. Agora, se esse queijo ou esse leite passou pela indústria, pelo processo de pasteurização, não há risco nenhum para o consumo. Reforço: até o momento, não há pesquisas que comprovem a transmissão dessa doença via alimento”.

Mitos e verdades sobre consumo de laticínios na pandemia/ arte: Sabrine Cruz

Contaminação indireta
Em relação às embalagens, Marcio Roberto Silva indica que pode haver a chamada contaminação indireta. De acordo com recomendações da OMS, o correto é que cada produto seja higienizado com água sanitária ou álcool 70% antes de ser guardado. Após esse procedimento, lavar bem as mãos com água e sabão ou usar álcool gel. “E evitar tocar os olhos, nariz e boca, mesmo com as mãos lavadas”, orienta.

Ao abrir a embalagem, acrescenta o pesquisador, o alimento pode ser contaminado por gotículas, caso quem esteja manipulando a comida esteja infectado. “Mas com o cozimento e fervura, o vírus é destruído e ainda não há evidências de que ele possa ser transmitido via alimento. No caso do leite, a pasteurização destrói o novo coronavírus”, garante.

Na avaliação de Gustavo Ribas Netto, os derivados de leite – e o próprio leite in natura – passam por cuidados especiais, o que reduz os riscos de contaminação. “A higiene para dentro da porteira do produtor é muito forte e com muitas exigências. O produto passa por processo de resfriamento, é armazenado para transporte, tudo com temperatura adequada. O risco pode estar mesmo na embalagem, não no produto”, reitera o presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa e do Núcleo dos Sindicatos Rurais dos Campos Gerais (PR).