Nós

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Esta não é a primeira vez que publico este artigo. E cada vez que o faço, modifico ou acrescento alguma coisa. Não sei qual é o pior dos regimes de exceção. Se o de alguns regimes militares ou o inquisitorial dos tribunais, hoje um pouco mais sofisticados do que na idade média.

A verdade é que só aprendemos a nos comportar conforme a ordem e a lei nos regimes de exceção. Senão não estaria acontecendo o que acontece agora, durante esta pandemia, quando as pessoas teimam, impunemente, em se aglomerarem nas ruas, nas festas, nos eventos ou espetáculos musicais, nos estádios e nas praias, desobedecendo o conselho de se isolarem, se cuidarem, preservarem e protegerem a sua saúde e a dos outros. Num regime de exceção isto não aconteceria, ao menos por medo das autoridades.

Eu servi no Exército em 1967, em pleno regime militar, e nesse tempo residi no interior e na capital e sou testemunha de que o clima geral era de trabalho, ordem, paz e harmonia, não havia tumultos, assaltos nem criminalidade.

Apesar da austeridade do regime militar durante o seu desempenho e por mais que lhe apontemos algum rigorismo, ele foi aqui, como se sabe, mais brando e civilizado do que em outros países.

O processo de contaminação e degenerescência política e social aconteceu, e rapidamente, a partir do chamado “governo democrático”.Após o regime militar, o pessoal estava tão ávido e ansioso que se foi, como se diz, com muita sede ao pote.

E por mais que confiássemos na capacidade e honestidade pessoal dos presidentes democraticamente eleitos até agora, não podemos deixar de reconhecer que sempre estiveram de mãos amarradas diante do poder legislativo, que afinal tudo pode e tudo faz nas barbas do executivo e do judiciário, protegido pela constituição, pela legislação, pela imunidade, pelo foro privilegiado e pela impunidade.

Quando dizíamos que o Chefe de Governo devia ser respeitado como autoridade máxima por civis e militares, nos reportávamos à constituição federal e aos regulamentos específicos que protegem ou deveriam proteger a sua autoridade e garantir a governabilidade do país.

Mas este direito, respeito e garantia de governabilidade, como vimos com o ‘impeachment’ do governo de Dilma, não tem sido observado perante o governo central, nem perante as instituições, nem perante o povo brasileiro, embora conservem, os parlamentares, seus próprios direitos, privilégios e imunidades. Enquanto legislam e votam em causa própria, aprovam benefícios e privilégios à classe e negociam acordos a portas fechadas, o executivo se mantém alheio, e muitas destas ilicitudes somente virão a público muito tempo depois de terem acontecido.

Portanto, responsabilizar apenas os governos Lula e Dilma, por esse caos econômico e institucional, é isentar a todos os demais, e a nós como seus eleitores.

De qualquer modo, no final das contas, nós, os eleitores, os contribuintes, os empresários, os profissionais liberais, os assalariados, os desempregados, a sociedade e o povo brasileiro, somos todos penalizados e sacrificados.