“Dizer que o tratamento, dito precoce, com ivermectina e hidroxicloroquina não funciona é uma falácia”, afirma Paulo Porto de Melo, médico neurocirurgião e especialista no enfrentamento de crises em Saúde

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Em entrevista exclusiva ao Brasil61.com, médico defende o reposicionamento de medicamentos para tratar Covid-19 e afirma que é preciso parar de brigar por posições políticas, aproveitar experiências que deram certo e implementá-las em larga escala

Olá, sejam bem-vindos ao Entrevistado da Semana. Vamos bater um papo exclusivo com o médico neurocirurgião e especialista em enfrentamentos de crises em Saúde, Paulo Porto de Melo.

Doutor Paulo Porto é formado pela Universidade Federal de São Paulo, possui título de especialista em neurologia, neurocirurgia, medicina de urgência e clínica médica. Pós-graduado em Harvard, tem aprofundamento no estudo de temas como inovação, liderança, gestão e enfrentamento de crises de saúde.

Doutor Paulo de Melo muito obrigado por nos receber.
 

“Olá, boa noite! É um prazer estar aqui com vocês.”
 

Para começarmos essa nossa conversa, gostaríamos que o senhor explicasse um pouco, para quem nos acompanha, por que resolveu entrar nesse debate público sobre enfrentamento da pandemia, em especial sobre os tratamentos adotados para os pacientes com Covid-19?
 

“Olha, desde o princípio, está muito claro que existe uma politização grande a esse respeito. Tenho uma visão particular de que o médico, indivíduo, pode até ter sua posição política, mas o médico, doutor, a ele não interessa de onde é o paciente, se ele é de esquerda, se é de direita, de centro. Isso é algo realmente irrelevante. Percebi que essa polarização estava levando a uma grande desinformação do público. Dados científicos sendo interpretados da forma como convinha a uma determinada corrente ou a outra, e a população no meio disso sofrendo com desinformação, com infecção e morrendo. Fiz medicina realmente por vocação, eu não podia ficar alheio a esse debate.”
 

Doutor Paulo, muita gente está usando expressões negativas para caracterizar o tratamento da Covid-19, como ‘kit-covid’ até ‘kit-morte’, por exemplo. O Ministério da Saúde está adotando a expressão ‘atendimento imediato’, em contraposição ao ‘fique em casa’. Há diferença técnica ou terminologia médica específica para classificar a administração de medicamentos em pacientes já testados positivo para Covid-19 e administração ou indicação de medicamentos em pessoas com sintomas e suspeita de infecção pelo coronavírus? E o que isso significa em termos de comando para classe médica e para rede de saúde?
 

“Em relação aos termos ‘kit-covid’ ou termos deselegantes que vêm sendo usados contra a medicação e até contra quem trata, o que eu tenho a dizer você que quando eu ouço alguém falar tratamento imediato para Covid-19 chamando de ‘kit-covid’, isso para mim já demonstra ignorância dessa pessoa. Ignorância às vezes não de ofensa, mas falta de informação porque não existe ‘kit-covid’. O que existem são uma série de medicações que podem ser usadas de forma associadas, em múltiplas combinações, para promover um efeito benéfico no combate à Covid, assim como se usou no início contra o HIV. Uma série de medicações que de forma associada tinha algum efeito para o HIV, não é? Então, quem fala em ‘kit-covid’ já demonstra que é um ignorante, que não está estudando o assunto e está querendo ‘lacrar’, só isso. Em relação ao chamado de ‘kit-morte’ eu acho até divertido, porque eu não preciso responder isso. Os meus pacientes falam por mim, porque eles estão todos vivos. Eu não perdi ninguém. E os pacientes dos que chamam de ‘kit-covid’ ou ‘kit-morte’, cadê os pacientes deles? Estão vivos para falar sobre a eficácia do ‘[toma] Dipirona e vai para casa’? Então, isso é um absurdo. O que está sendo feito é de uma crueldade sem tamanho. Isso não pode perdurar, porque isso não afeta a mim, não afeta a você. Afeta o ‘seu’ João, que está lá no meio de uma comunidade carente que fica no meio dessa guerra.”
 

E o que o senhor considera que fica por trás da confusão e que gerou essa carga negativa em torno da expressão ‘tratamento precoce’?
 

“Eu acho que há uma confusão muito grande em uma questão que era para ser eminentemente técnica, com a questão política. Não vou falar nem do contexto brasileiro, mas vamos falar do contexto americano. Donald Trump resolveu defender uma medicação, que é hidroxicloroquina, e o que aconteceu com ele? Imediatamente foi hostilizado e a medicação obviamente passou a ser identificada como o ‘remédio do Trump’ ou ‘remédio do presidente da República’ aqui no Brasil. O que é de uma estupidez sem tamanho, porque não é a medicação do Trump ou do Bolsonaro. É uma medicação usada para tratar lúpus, por exemplo, há muito tempo. A medicação que é usada para tratar malária. A mesma coisa se refere a outras medicações. Conseguiram fazer uma campanha na mídia gigantesca para fazer desacreditar a hidroxicloroquina. Agora é a vez da Ivermectina, uma medicação usada há décadas, inclusive por professores da rede pública para prevenção de piolho. Aí ficam fazendo ‘troça’, ficam fazendo piada. ‘Ah, remédio para piolho vai matar Covid?’. Puxa, e se matar? Olha que bom. Remédio barato, provado pelo tempo e que funciona, sim, contra Covid? Por quê? Só pode ser medicamento caro, moderno, para tratar alguma coisa, alguma condição de saúde. Então eu vou fazer ‘troça’ também, falando assim: ‘Nossa, está usando remédio para pressão alta para tratar disfunção erétil?’, ‘Nossa, olha só, está usando remédio para pressão alta para tratar queda de cabelo?’. Isso é uma tradição médica. Reposicionamos medicamentos quando descobrimos que eles têm outras utilidades além das quais eles foram projetados.”
 

Doutor, o senhor acredita que exista lobby e interesse da indústria farmacêutica por traz desses estudos?
 

“Vai interessar para uma indústria, que fabrica a vacina, que se mostre que existe um tratamento eficaz, preventivo e que talvez diminua a pressão pela necessidade de adquirir vacinas, a alto preço a qualquer custo? Eu acho que não.”

Doutor Paulo, a Organização Mundial da Saúde aponta que a maior parte das pesquisas sobre tratamento da Covid-19 são observacionais e não possuem padrão randomizado com estudo duplo-cego. Mesmo assim o senhor defende a liberdade médica na indicação de medicamentos no tratamento da Covid-19?
 

“Não dá tempo de esperar um estudo duplo-cego randomizado. Agora, porque eu defendo que não dá tempo de esperar, não quer dizer que esteja defendendo o uso sem critério nenhum. Acho que tem que ser usado, mas desde que exista uma evidência mínima de que ela não traz malefício e que traz benefícios ou potencialmente pode trazer um benefício.”
 

Estamos vivendo, infelizmente, a pior fase da pandemia no Brasil. Na opinião do senhor, o que o país ainda pode fazer para evitar a piora desse quadro?
 

“O que a gente pode fazer é parar de brigar por posições, por time, por partido político e negociar soluções. Sentar-se numa mesa, colocar as mentes brilhantes, que tem tanto de um lado quanto do outro para criar uma solução. Aproveitar as experiências que já existem, que dão certo não só fora do país, como dentro do país e implementar isso em larga escala.”
 

Assim nós chegamos ao final do nosso bate-papo. Doutor Paulo Porto de Melo, muito obrigado pela entrevista
 

“É um prazer tentar contribuir nesse momento crítico que a nossa geração está passando e que há muito tempo a humanidade não vinha enfrentando.”