Morre em Porto Alegre o tradicionalista Paixão Côrtes, aos 91 anos

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Na imagem Paixão Côrtes inaugura estátua em sua homenagem. A estátua está localizada no acesso a Santana do Livramento/RS

Simbolo dos gaúchos, morre no Hospital Ernesto Dornelles, o tradicionalista Paixão Côrtes, aos 91 anos de idade. O hospital confirmou que o óbito aconteceu às 16h05, mas não informou a causa.

O governo do Rio Grande do Sul decretou luto oficial de três dias. Paixão Côrtes estava internado na UTI do hospital Ernesto Dornelles recuperando-se de uma cirurgia que teria provocado algumas complicações. Ele havia sofrido uma queda ainda em julho e fraturou o fêmur de uma das pernas.

O tradicionalista visita Santana do Livramento para inaugurar estátua em sua homenagem. O monumento foi erguido no acesso da cidade (06 de novembro de 2013)

Paixão Côrtes é um dos maiores nomes do tradicionalismo no Rio Grande do Sul. Ele serviu de modelo para a estátua do Laçador, monumento que homenageia o gaúcho na entrada da cidade de Porto Alegre.

Paixão Cortes nasceu em Sant´Ana do Livramento

João Carlos DÁvila Paixão Côrtes nasceu em Sant´Ana do Livramento no dia 12 de julho de 1927. Tem suas heranças ligadas à vida pastoril. Formado em Agronomia se tornou pesquisador, compositor, radialista e folclorista Paixão Côrtes é um personagem decisivo na cultura gaúcha e no movimento tradicionalista no Rio Grande do Sul.

 

Em homenagem a Paixão Côrtes, Renato Levy, em abril de 20006 escreveu esta matéria, que transcrevemos abaixo:

O Santanense Paixão Côrtes

Perdoem os que discordam. Penso que, quando se quer homenagear alguém, o ato deve ser em vida dele. Após a sua morte, é ato de recordação, que é sempre válido, porém nada se iguala ao reconhecimento presencial de uma comunidade a quem se quer destacar e que marcou a existência com feitos heróicos ou atividades de inestimável valor. É claro que não é fácil para um grupo social cristalizar uma opinião definitiva sobre alguém que ainda está em plena atividade humana. Não é por outra razão que se proíbe dar nome de alguém em vida a um bem público. Há casos, no entanto, que não se justificam que uma comunidade espere o passamento de alguém para homenageá-lo, quando os seus feitos celebrados estão perpetuados. Propositadamente, fiz esta digressão antes de dizer que tomei conhecimento durante a realização da Campereada de 2006, que alguns tradicionalistas estão pensando em prestar uma homenagem a João Carlos Paixão Côrtes, materializando-a através de um busto ou estatua. Sou inteiramente favorável e louvo a quem teve esta brilhante idéia. Vale remarcar que o santanense Paixão Côrtes nasceu ali na esquina da rua Rivadávia Correa e Uruguai, em 12 de julho de 1927, no mesmo local em que residiu no ano de 1872 o poeta argentino José Hernandez, autor de Martin Fierro.

Foram seus pais Júlio Paixão Côrtes e Maria Fátima D’Ávila Paixão Côrtes. O nosso conterrâneo estudou no Colégio Marista até os 12 anos quando seu pai foi transferido para Uruguaiana, pois era agrônomo e servidor da Secretaria de Agricultura do Estado.

Depois de estudar no Colégio União daquela cidade foi interno para o IPA, em Porto Alegre, passando a estudar no Colégio Júlio de Castilhos no ano de 1946. Foi com a criação do Departamento de Tradições Gaúchas do Grêmio Estudantil da escola, por Paixão e outros colegas do turno da noite, que surgiu a miraculosa semente que embalou o sonho de reviver as tradições gaúchas, que hoje se espalha por todos os quadrantes do mundo.

Nas festividades da Semana da Pátria do ano de 1947, Paixão e seus amigos resolveram colher uma centelha do Fogo Simbólico e conduzi-la até o saguão do Julinho onde haveria um candeeiro que receberia a “Chama Crioula”, e permaneceria até o dia 20 de Setembro, data comemorativa da Revolução Farroupilha. Por coincidência, naqueles dias chegava em Porto Alegre proveniente de Sant’Ana do Livramento os restos mortais de David Canabarro, herói farroupilha e da Guerra do Paraguai. Paixão ficou encarregado de arranjar uma guarda de cavalarianos para recepcionar a urna funerária do herói, tendo constituído o Piquete da Tradição que posteriormente passou a ser reconhecido como o “Grupo dos Oito”, ao qual se atribui o marco de criação do movimento tradicionalista gaúcho. O gauchismo, que já transpôs as fronteiras brasileiras, é uma obra concreta e irreversível e o seu criador merece toda a louvação. Não há porque esperar mais para prestar esta homenagem.